quinta-feira, setembro 01, 2005

Funeral

The Arcade Fire, Funeral
The Arcade Fire
Funeral
Rough Trade, 2004

O primeiro dos Canadianos Arcade Fire tem um pouco de tudo, característica comum aos grandes discos. Melodias à chamber-pop, som primitivo art-rock, orquestrações de uma sensibilidade comovente, uma voz decididamente post-punk e um tema bem marcado: a insondável fragilidade de sermos apenas mortais. À cabeça deste quinteto encontra-se Win Butler e Régine Chassagne, marido e mulher. A cumplicidade de ambos nota-se pelo disco fora, seja nas dedicatórias aos entes queridos que partiram, seja nos duetos transpirados que partilham em músicas também cantadas em francês.
A paleta de contrastes presente neste trabalho dos Arcade Fire lembra bandas tão diferentes como os Pixies, New Order, Talking Heads ou Roxy Music. Buttler tem uma voz que pode não agradar a todos, mas que a meu ver se encaixa na perfeição no carácter deste disco. Quando se deixa levar pela música, canta de uma forma tanto primitiva quanto melódica, com uma atitude que atira a banda para fora do barco chamber-pop e a aproxima da influência punk das águas indie. Régine também canta a solo e na última faixa do álbum, “In the Backseat”, chega mesmo a fazer lembrar a fragilidade de Björk.
A viagem pelos temas chave do álbum tem de começar por “Crown of Love”, autêntica peça teatral, contida e caótica. Uma melodia orquestral lamechas, acompanhada de ritmos constantes ao piano, suaves riffs de guitarra enquanto Win canta apaixonadamente a canção do arrependido “If you still want me/Please forgive me/The crown of love has fallen from me”. Penso que esta canção resume todo o espírito do álbum. Um puro elogio aos sentidos. No fim do tema, em vez do habitual escoar da melodia, somos presenteados com uma batida disco (aspecto recorrente que muito me agrada) acompanhada do ritmo sincopado nas cordas à Michael Nyman, transportando a música bem para lá do hiperespaço, fazendo-nos abanar a cabeça em sinal de encanto: lindo! Continuando a viagem, o tema que se segue é “Wake Up”, autentico hino para concertos ao vivo. Coros para o público cantar nos primeiros dois terços do tema; batida sincopada para juntar as palmas no último terço. Isto e um transbordar de energia e exultação proveniente de um tema essencialmente espiritual, onde Régine canta a esperança que depositamos nos nossos filhos: “You better look out below!”. Para terminar, gostava de referir ainda o tema “Rebellion (Lies)” com o seu bombástico baixo e ritmos disco a juntar a uma das melhores orquestrações do disco.
Dez temas de proporções dramáticas que não me vou cansar de ouvir. Verdadeira caixinha de emoções.