quarta-feira, agosto 31, 2005

All That You Can’t Leave Behind

U2, All That You Can’t Leave Behind
U2
All That You Can’t Leave Behind
Polygram, 2000

Tenho de confessar que ainda não tinha ouvido este disco com atenção. A minha relação de amor com os U2 começou a degradar-se por volta de 1993 quando a então, minha banda favorita, lançou Zooropa. Talvez admitindo que as expectativas criadas por um dos melhores álbuns da Pop (Achtung Baby, 1991) não teriam sido de todo atingidas, tiveram quatro anos há espera para lançar o seu pior álbum de sempre: Pop. Para mim (e para muitos), a vida continuou sem os U2.
Quando “All That You Can’t Leave Behind” chegou no mítico ano de 2000, fui um dos muitos que o ignorou. Gato escaldado de água fria tem medo, diz o povo.
Aproveitando agora a desculpa criada pelo concerto de Alvalade, decidi dar uma renovada oportunidade a estes quatro que tanto fizeram pela minha formação musical (e cultural) e voltei a passar os sentidos pela sua discografia.
O seu registo de 2000 é um bom disco. Ainda que possa parecer antiquado aos meus ouvidos de século XXI, parece que os U2 decidiram compor um disco de muito boas canções de rock & roll, substancialmente tradicional e que vai beber aos bons velhos tempos da banda. Cheira a regresso às origens e eu gosto muito desse perfume.
Como sempre, as letras dos U2 (de Bono), verdadeiros hinos à cultura Pop, são muito mais do que aquilo que contam à superfície. À medida que Bono envelhece e a sua profunda humanidade cresce na direcção do verdadeiro Amor, é muito bom perdermo-nos nas entrelinhas das suas canções. Exemplos disso são “Walk On”, onde a mensagem de Aung San Suu Kyi “apenas combatendo o medo podes ser verdadeiramente livre” está bem presente; “Kite” que parece explorar a velha certeza de que todos vamos morrer um dia; ou “Peace on Earth”, onde Bono pede a Deus uma vez mais para que a violência acabe na sua Irlanda natal. Todos sabemos da profunda espiritualidade que Bono emprega na sua vida e isso vai-se notando cada vez mais forte na sua arte.
Em resumo, parece que os U2 olharam para a sua carreira de duas décadas, descobriram que afinal são a maior banda Pop do mundo e resolveram escrever uma série de canções sonantes. E foi isso que fizeram. Sem incursões electrónicas, sem viagens a terrenos por explorar. Apenas simples, tradicionais e muito boas canções Pop. Terá sido alguma crise de meia-idade?

Employment

Kaiser Chiefs, Employment
Kaiser Chiefs
Employment
Universal, 2005

Já não me divertia tanto a ouvir um disco desde o tempo em que descobri a alegria contagiante dos Divine Comedy. Já lá vão uns anos…
Estes cinco miúdos de Leeds acertaram em cheio na veia que me faz sorrir e são decididamente a versão musical do Gato Fedorento. Ainda não sei como os hei-de catalogar em termos de estilo, mas há-de ser qualquer coisa entre o Britpop, o Post-Punk e o Indie. E o que há de Gato Fedorento neste disco é o facto de existir um pouco de cada um desses estilos em cada uma das faixas e de se fazer notar a forma brilhante como essa colagem é feita. Os elementos são reconhecíveis, mas não há clichés nas canções dos Kaiser Chiefs. Na mesma medida que há muito do sublime dos Python nas piadas do Gato Fedorento.
São back-vocals e sintetizadores à la Britpop; letras com atitude, riffs eléctricos de guitarra, coros na-na-na inspirados no Post-Punk; baladas que transpiram a tímida inocência do Indie Pop. Isto tudo numa mão cheia de canções que ficam no ouvido e nos incitam a privados Chuvas de Estrela a mais de 120 na auto-estrada.
As minhas escolhas vão para a faixa de abertura “Everyday I Love You Less and Less” que nos conta a história de um gajo que está tão farto da namorada que se sente na obrigação de lhe contar como a vida é tão boa sem ela (será?) e que dita o tom para o que se segue no resto do álbum; “Na Na Na Na Naa”, uma correria louca ao som de um piano à Manfred Mann; a simplicidade de “You Can Have It All” a lembrar os velhinhos Beach Boys; e a teatralidade de “Born to be a Dancer” e “Time Honoured Tradition”.
É difícil encontrar um disco recente mais agradável/alegre do que este. Estou a curtir!

Turn on the Bright Lights

Interpol, Turn on the Bright Lights
Interpol
Turn on the Bright Lights
Matador, 2002

Manchester, início dos anos 80. Acertei? Não… Os Interpol são Americanos, de Nova Iorque. Usam fatinhos engomados mas felizmente não são mais uma daquelas bandas post-punk que usam muito barulho para se fazer ouvir.
As aparentes semelhanças com os Joy Division (ou mesmo com os R.E.M. dos primeiros anos) podem levar o ouvinte menos atento a estampar-lhes o rótulo de plagiadores e afastar-se da beleza da sua música. Até porque a voz do vocalista Paul Banks tem um timbre muito semelhante à do vocalista de Manchester. Pelo meu lado, tenho a confessar que nunca ouvi muito Joy Division (nos anos 80 eu consumia mais Pop), mas estou certo que se Ian Curtis ouvisse estes miúdos de Nova Iorque se deixaria tocar pela beleza sombria da sua música.
O disco está cheio de riffs de guitarra atordoadores, baterias sincopadas que parecem não parar e coros de uma energia hipnotizadora. As letras são simples e melancólicas e toda a predominância é dada ao aspecto sónico das canções. As guitarras ouvem-se, a bateria está lá bem presente, mas não existem exageros em termos sónicos.
Uma mistura fina entre Radiohead, My Bloody Valentine e Ride.
Os pontos altos do disco passam pela valsa triste “NYC”, as pinceladas expressionistas de guitarra em “Untitled” ou o regresso a Substance em “PDA”. Aliás, as cinco primeiras faixas deste CD sofrem de uma coesão tão sublime que só por si fariam deste registo um disco fabuloso. Tal como canta Paul na primeira faixa “Suprise sometime will come around”. Foi isto mesmo que me aconteceu. E que boa surpresa esta.

Log initiated...

O principal culpado da criação deste Blog merece o seu anonimato, mas é certamente devido a ele que desde o primeiro dia de férias deste Agosto de 2005 estou incumbido de uma enorme tarefa: ouvir cerca dos 1500 albuns da música dita alternativa (e não só) residentes no novo disco rígido lá de casa. A sua partilha vai permitir-me inúmeras descobertas e, para não parecer egoísta, vou deixando por aqui registo das melhores.

São primeiras audições de álbuns fundamentais – “o quê, ele ainda não tinha ouvido isto…” -, discos novos e velhos, de bandas conhecidas e de nomes nunca ouvidos.

Como não sou crítico de música, nem tenho muito jeito para a escrita, ficam apenas as palavras que resumem a opinião sincera de alguém de gosta de ouvir com atenção.