All That You Can’t Leave Behind
U2
All That You Can’t Leave Behind
Polygram, 2000
Tenho de confessar que ainda não tinha ouvido este disco com atenção. A minha relação de amor com os U2 começou a degradar-se por volta de 1993 quando a então, minha banda favorita, lançou Zooropa. Talvez admitindo que as expectativas criadas por um dos melhores álbuns da Pop (Achtung Baby, 1991) não teriam sido de todo atingidas, tiveram quatro anos há espera para lançar o seu pior álbum de sempre: Pop. Para mim (e para muitos), a vida continuou sem os U2.
Quando “All That You Can’t Leave Behind” chegou no mítico ano de 2000, fui um dos muitos que o ignorou. Gato escaldado de água fria tem medo, diz o povo.
Aproveitando agora a desculpa criada pelo concerto de Alvalade, decidi dar uma renovada oportunidade a estes quatro que tanto fizeram pela minha formação musical (e cultural) e voltei a passar os sentidos pela sua discografia.
O seu registo de 2000 é um bom disco. Ainda que possa parecer antiquado aos meus ouvidos de século XXI, parece que os U2 decidiram compor um disco de muito boas canções de rock & roll, substancialmente tradicional e que vai beber aos bons velhos tempos da banda. Cheira a regresso às origens e eu gosto muito desse perfume.
Como sempre, as letras dos U2 (de Bono), verdadeiros hinos à cultura Pop, são muito mais do que aquilo que contam à superfície. À medida que Bono envelhece e a sua profunda humanidade cresce na direcção do verdadeiro Amor, é muito bom perdermo-nos nas entrelinhas das suas canções. Exemplos disso são “Walk On”, onde a mensagem de Aung San Suu Kyi “apenas combatendo o medo podes ser verdadeiramente livre” está bem presente; “Kite” que parece explorar a velha certeza de que todos vamos morrer um dia; ou “Peace on Earth”, onde Bono pede a Deus uma vez mais para que a violência acabe na sua Irlanda natal. Todos sabemos da profunda espiritualidade que Bono emprega na sua vida e isso vai-se notando cada vez mais forte na sua arte.
Em resumo, parece que os U2 olharam para a sua carreira de duas décadas, descobriram que afinal são a maior banda Pop do mundo e resolveram escrever uma série de canções sonantes. E foi isso que fizeram. Sem incursões electrónicas, sem viagens a terrenos por explorar. Apenas simples, tradicionais e muito boas canções Pop. Terá sido alguma crise de meia-idade?